terça-feira, 28 de agosto de 2012

AS CORRENTES



demoro tempo
a olhar a corrente na diagonal
o espaço entre os ligamentos
torna-se mais rigido
na perspectiva da diagonal

o posicionamento na horizontal
é o desespero

as correntes são o abraço que força
o corpo de alguém
a flutuar no espaço desocupado

o código genético das correntes
tem em latim
a transcrição da ameaça velada e que se teme

"a liberdade está a chegar ao fim da linha"


na verdade a liberdade só é considerada
quando nos deparamos com a ausência dela ou com a sua escassez


todos ignoraram a liberdade
nem a conhecem à vista nem lhe sabem chamar pelo nome
nem a estimam, nem lhe fazem oferendas em datas de aniversário
nem lhe medem o grau de valor
nem lhe pesam a grama nem lhe valorizam os afectos

a liberdade

dá nos o prazer da brisa a contornar
o rosto com as mãos de seda que só o vento
sabe fazer
este é o retrato possível para o cartão do cidadão da liberdade

proíbam a construção de correntes

matem os opérarios que cumpram ordens
e que as fabriquem

reste apenas as correntes
para decoração
retirem do seu intimo a sua verdadeira utilidade

as mulheres choram
as mulheres sofrem
quem liga o pulso da mulher feito de carne suada e sangue
a correr em rios de veias no interior

pior que olhar de frente
é perceber que a corrente tem melodia e timbre

quem nos disse que as correntes eram meramente um objecto
mentiu, foi um filha da puta de um aldabrão

não, não, as correntes são monstros unidos
entre o aço e a ligadura alcançada
com maçaricos em fogo ardente
que solda

as correntes falam
o pior é saber que quem reconhece esse som
quer dizer que está num fim de linha de liberdade e de amor

as vítimas conhecem
a melodia das correntes
som metálico que em uníssono entoa som grave

todas as mulheres deviam usar
na carteira, para além do blush e do batom
um forte alicate de corte

HOJE TU FAZES A INDIFERENÇA





hoje
és tu que fazes
A indiferença

assinas o perfil de distante
envergas as vestes de mandante de um crime menor

guardas as correntes que prendes o amor
que um dia disseste que tinhas

estarás segura do que dizeste
és leviana, quando dizes, policarpo, amo-te ?
sabes mesmo o meu nome ?

nunca me chamaste de hugo ?

porquê policarpo
porque sabes que é ele o poeta ?

hoje és tu
que te afastas das tuas palavras

inócuas
incapazes de assumir o compromisso

hoje
acumulas areia para misturares com o cimento da frieza das cabras

porque só as cabras são frias
e isto por causa dos pelos densos que as cobrem

tu não tens pêlo.

hoje, tu fazes a indiferença

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A BELEZA DO QUE É FEIO E AS RUÍNAS DE HAVANA



A BELEZA DO QUE É FEIO E AS RUÍNAS DE HAVANA


olhar para as cores nítidas de uma flor

fixar com rigor de fotografo o som em cadência monocordica
o som da rebentação das ondas
com sujidade de algas castanhas

deter me perante um rosto de uma mulher
não um rosto bonito e torneado
mas, um rosto frio que nos bloqueia de quieto

o que se faz perante a beleza ?

a mim, assisto com natural espasmo de quem olha para as coisas
como se a beleza fosse condição genética
para a existência das coisas e das pessoas

isso confere uma plasticidade com elevado grau de "tanto me faz"

a mim, o que me establece uma ponte de atracagem entre a coisa em si
e as suas características inatas ou adquiridas pelo passar fodido do tempo

é o que lhe resta
é o entulho que sobra depois da acção de destruição

o feio, o resto
o lado obscuro, o lado negro, o lado obsceno
o lado b das coisas

a beleza que me deixa quieto e em andamento adagio numa sinfonia
é esse fim

é esse feio

é esse lado b

o que resta do edificio e do seu entulho
fornece-me admiraçao pelo o objecto e pela dimensão do que vejo

os edificios que eu construo com o que resta do entulho
são palácios perante os "bonitos palacios conservados"

que se foda a beleza do mar e das flores ou de um rosto torneado de perfeição

admirem o que é feio e o que o faz sobreviver

o lixo tem uma história, as coisas úteis são apenas o que lhe queremos dar

já passearam numa das maiores avenidas marginais de havana ?

não lhe conheço o nome.

sei que de um lado é o mar quente das caraibas

do outro é uma extensa linha de predios com bonitas e românticas fachadas

e são os prédios mais bonitos que já vi.

porque ? são bonitos ?

não, porque estão num estado de ruína agravada
e porque mesmo assim são habitados e úteis

adoro aquela beleza
com os tijolos a partirem-se, as paredes sem reboco, as janelas a racharem e a ver-se a frágil
união da madeira e do ciemento

estão no fim
mas, no início do que acho belo.

O GRITO


grito.
qual o timbre de um grito ?
numa multidão, composta por 2 pessoas ?
duas pessoas é uma multidão seguramente, e o ruído que emana desse ajuntamento pode danificar a auto-estima de qualquer pessoa. basta uma palavra em forma de grito
para intervir em forma de dano integral numa personalidade.

não é necessário que o grito tenha decibéis nos tons agudos e em frequências altas, quase inaudiveis
.

o grito, é a intenção que o define e lhe confere grau de agressividade.

não grita, quem esforça as cordas vocais e lhe confere
um rosto avermelhado e as veias a ganharem relevo num pescoço erecto entre a cabeça e o dorso

grita quem mata
grita quem fere

o silêncio grita
a indiferença gita
o desinteresse grita...

o grito doi.

observem o grito do pintor munch ?
sim, o tal da noruega.

as cores distrocidas
são entulho que sobrou depois de um grito...
nunca ninguém lhe mediu os decibeis
mas, mesmo assim o grito de munch perturba

prefiro quem fale
não aprecio quem se cala

lá dentro ferve ódio, indiferença ou desinteresse.









sábado, 25 de agosto de 2012

PERANTE A INCLINAÇÃO DESEJO CAIR SOBRE ELA



quando me inclino
o meu desejo é cair.
não preciso de altura
para ter vertigem.

existem coisas que ganham altitude
e desafiam a coragem

só com um pé
à beira da linha de arame
percorro a linha e fica firme...

mas, quero cair....
lá no fundo
todos queremos saber como é sentir o impacto
dos ossos e da carne a latejar de dorido e a romper

a minha queda é sobre ela...
nesta imagem de corpo torneado a giz de cor de pele
há uma cor verde que corta a pele
cicatriz feita à faca cortante da lamina de algodão 

é sobre ela que caio
por baixo daquele tracejado verde
que irrompe os relevos de carne e pele desta foto

por baixo do verde
está a cor suave pastel do que nos alegra

e como é bom, ainda nos fascinar
a cor suave pastel

       
  nem a matemática de multiplicar
faz policarpo deixar de sentir a vertigem perante
o intervalo entre o tracejado a verde a pele.

a inclinação
é meio caminho percorrido para cair

só morre quem arrisca viver na linha de corda
os covardes ficam quietos nas suas vidas miseravéis

os intensos vão na espuma das ondas
na cadência igual as ondas do mar com a força e o perigo

os intensos conhecem a memória
do sabor da vida que comem
seja cozida ou crua

as outras pessoas estão na noite cerrada

não faço favor a mediocres
não tomo cafés com irrascíveis
não como com filhas da puta..

a estes tenho riso de cabrão
estou atento

O MAU ARRUMADOR DE PESSOAS E WILLIAM BURROUGHS



policarpo
assobiava em tom de fá sustenido
enquanto de forma irreflectida enviava a mão para o lado esquerdo e para o lado direito....

plantava desorientação às pessoas que se procuravam estacionar nas marcações urbanas

junto aos passeios largos da avenida

policarpo continuava com as indicações para a esquerda ora para a direita

as pessoas que criam estacionar, acenavam com a cabeça inclinada, como se tivessem dentro dos
carros  e gritavam

"ó filho de uma grande puta"....

"não sabes onde fica a esquerda e a direita ?"

"sai dai ó meu grande cabrão disléxico"

policarpo.  parou para descansar.

junto a ele sentou-se uma senhora de idade pesada
e de rugas coleccionadas na testa
para visibilidade de todos...

"então meu jovem ?"  "olá minha senhora", respondeu policarpo...

"nem para arrumador de pessoas o jovem serve !"  disse com um tom de afirmação com margem reduzida
para poder haver erro ou contraponto por parte de policarpo...

"tem razão", acenou para o lado esquerdo e para o lado direito da cabeça....

vai a velha e corrige, meu jovem, acenar num tom positivo e de verdade, é de cima para baixo..

"obrigado minha senhora...."

"mas, diga-me porque será que esta é a única rua de lisboa onde as pessoas querem se estacionar ?"

"nunca vi em mais nenhuma parte do mundo, meu jovem.."

olhe, retorquiu policarpo, eu creio que é por causa das placas que indicam
"local de parqueamento para indivíduos",

"está na genese da existência humana, o factor obdecer..."

"ó jovem, você parece ter algum quoficiente de interesse pelo que lhe rodeia". (disse a velha a policarpo)

"obrigado minha senhora.."

a seguir a velha, sai-se com uma pergunta..

"sabe que o william burroughs era maricas ?"

"sim, sei, depois de ter morrido a sua mulher... e infelizmente também era um "junkie" convicto"

"junkie ????, repetiu a velha , o jovem cada vez mais me surpreende...
sabe então onde ele escreveu"naked lunch" ou a "refeição nua" ?"

"sim minha senhora, num quarto de hotel em marrocos, nem tomava banho, nem trocava de roupa, só levantava o braço para se injectar e continuar a escrever...."

"porque é que o jovem"....policarpo, percebendo que ganhou o respeito e a admiração da velha, interrompe, "desculpe, o meu nome é policarpo, hugo policarpo."

"muito bem policarpo...porque sabe tanto de um escritor maldito da geração "beat""

"porque eu sou homosexual minha senhora..."

"e faço questão de ler todos os livros escritos por homosexuais...

desde pazzolini, jean genet, burroughs, oscar wilde, enfim"...

"está bem policarpo".... olhe, chama a velha a atenção de policarpo, vêm ai dois gordos...

" já minha senhora"...

"policarpo, veja os meus gestos..."

policarpo, começa a levantar uma mão ao ar, (olhava timido para a velha)

os gordos começaram a abrandar a cerca de 15 metros e ao aproximarem-se de policarpo reduziram consideravalmente a marcha,

policarpo, indica, um lugar junto a um castanheiro para um dos gordos, pede a ele, para recuar e para se juntar mais as marcações do chão...

policarpo fala para o gordo, "o senhor sabe que para pessoas com um determinado peso bruto, entre o eixo da perna esquerda e da perna direita, tem que estacionar nestes lugares..."

"está certo senhor arrumador de pessoas..."

ambos deram 1 euro a policarpo, que riu e agradeceu....

a velha , levantou-se e despediu-se, jovem policarpo, finalizei a minha tarefa, de o ajudar neste seu emprego muito importante para o trafego de pessoas nesta avenida.

e finalizei a minha observação de tentar perceber porque você era o pior arrumador de pessoas
de lisboa, você  é demasiado atento ao mundo e culto para esta tarefa.....

"mas, quem é a senhora, pergunta policarpo..."

ENGª AGUSTINA BESSA,

"sou fiscal da empresa municipal de parqueamento de pessoas..."

"sim, foi um prazer, obrigado...."

"adeus policarpo....vai continuar ao nosso serviço....
e já agora sabia que o william burroughs e o jack kerouac escreveram um livro juntos ?"

"sim, sobre mistério...  e os hipopotamos foram cozidos nos seus tanques....creio que nunca foi publicado
há uma coisa que não gosto em burroughs..."

"o quê meu jovem policarpo ?"

"o gosto pelas expressões e pelo vocabulário escatológico..."

"pois, sobre merda...."
"muito bem policarpo.... até um dia."



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ANA. CURTO. USADA E ABUSADA. CIGARRILHA NA MÃO !


o que ela tapa com a mão ?  ninguém com decoro e
envergando vergonha, tapa alguma coisa só com uma mão.
e porquê a posse de scarlet ou de sofia lorene
com um cigarro na mão.
erro.
cigarrilha com filtro.
os detalhes definem a qualidade de uma personalidade e do seu status quo

nome ?

ana.
curto !
é um nome de uma mulher afrontada
afronta da moral e dos tais bons costumes ?
não.
quem é mesmo ela ? quem será realmente ela ?
ana !
curto.
nenhuma mulher fotografada em trajes excitantes e com tons de vulgar
com uma cigarrilha na mão
com o cabelo preto e mão a cobrir um baixo ventre
é apenas ana. ela é mais que isso.

é curto.
as vertigens das alturas da vida de ana, o uso que dá ao seu corpo
num rodopio de gasto e de abuso
o que fará mais ela para morrer cedo ?
ela encontra o atalho rápido e sem muito suor
a não ser o que lhe cai de um coito trabalhado na força bruta
do desprezo

a morte é o destino a embarcar nesta cruzada de carla.

os homens desprezam o coito com as mulheres que não amam

mas, fazem-no num trago semelhante ao absinto puro com 60% de álcool
e isso serve. no fim resta-lhes a fraca e ténue paz de uma ejaculação
brindada ao grito, igual ao de um golo marcado pelo sporting, meu clube de coração

chamo-me hugo policarpo, tenho 1 metro e sessenta e quatro, e peso, 85 kilos
imposto em falta na declaração de rendimentos nos últimos 8 anos.
tenho 4 centimetros de diametro de membro fálico


ana
é comprida. extensa na ruptura que fez com a vida normal de todas as mulheres.
nome curto. comportamento extenso.

vida , ao risco na marginal que pondera cair sobre o mar
corpo, usado de tanto rasgo
vulva, cansada nos músculos que brutalmente espancados são ao
passar das horas nos relógios que os homens usam
para contabilizar os minutos que dura

a duração é o objectivo. a plenitude e a intensidade são vocabulário de decoração

os momentos de ana, são acompanhados ao tempo compassado do choro que seca por dentro
não ao segundo do prazer
mas, aos minutos do estalo sobre a cara magra de ana
rosto curto.
muito espaço de osso para estalos, entre o nariz erguido e a orelha esguia

conheci ana.
curto.
estive com ela duas vezes.
na verdade, foi só uma.
na certeza. nunca a vi.

é actriz numa vida que é projectada pela seu desejo de ser uma miuda normal
pelos seus caminhos negros de putidão
diz à família que faz novelas

MAS, QUEM LHE DISSE QUE ERA NOBRE SER ACTRIZ DE NOVELAS ?
curto.
tudo em ana não coincide
com o seu curto nome.
só a foto não é curta.
é ela. magra, voz grossa de gargantas esfoladas ao grito
durante a cópula que ela cede a todos...


                                     porque é que tem as botas pretas de cano alto calçadas ?
quem lhe disse que "femme fatale" é um mero acumular
de "clichés" do erotismo da sétima arte

qual o momento ? qual a "ignição" de ana
para a sua metamorfose ?

será que foi a influência do livro do italiano
alberto moravia  "a romana"
a história de uma meretriz italiana

não. curto. ana não lê.
só vê imagens e legendas.

ana, nunca vai poder inverter o sentido do seu caminho
asfalto negro e insinuoso que a conduz
à solidão e à sensação de nada, de objecto
gasto, rasgado, queimado de uso, sujo de utilização intensiva

até aposto que não sabe qual o aroma daquelas cigarrilhas.
e aposto ainda que nem sabe que aquilo não são cigarros chesterfield
o hugo policarpo comprou naquela loja da esquina, entre a pontinha e odivelas
café creme.
isto ao menos não é curto.
são 9 letras.
ana,  curto !
são 3 letras.

é ana uma prostituta ?
não sei. nunca disse ao hugo policarpo !
nunca recebeu dinheiro de hugo policarpo.

ninguém sabe nada sobre a vida dos outros, mesmo depois de os conhecermos na intimidade
do coito consentido.

enfim......meras especulações a partir de uma mão a cobrir o baixo ventre
e umas botas pretas de cano alto.
piercing no nariz
e cigarrilha na outra mão
e uma abertura de 120 graus.

curto
ana.


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O CARTEIRO FALA DE ARTAUD PARA O MORTO


A VIDA É QUEIMAR PERGUNTAS

DIZ O CARTEIRO QUE SEGURA O SACO DOS CORREIOS

DO OUTRO LADO DA JANELA

GRITA O HOMEM MORTO

NÃO ME ENTERRO PORQUE NÃO TENHO DINHEIRO

E SOFRO A POSSIBILIDADE BUROCRÁTICA

DE TER QUE ASSEGURAR OS CUSTOS DOS ARRANJOS FLORAIS

QUE IRÃO MANDAR FAZER PARA ME SEDUZIR E NÃO ATORMENTAR NINGUÉM...

O MORTO DIZ PARA O CARTEIRO

ESSA FRASE É DO ESCRITOR ANTOIN ARTAUD....

A MIM JÁ NÃO ME ENGANAS...

OS FALECIDOS CONSCIENTES TEM CERTEZAS SINGULARES

E DEFINITIVAS QUE OS CARTEIROS NÃO TEM...

A ECONOMIA É GELO QUE CRISTALIZA A VIDA

NÃO SE VIVE PARA VIVERMOS

VIVE-SE PARA DORMIR, PAGAR IMPOSTOS E NÃO PODER MORRER

PARA NÃO TERMOS QUE PAGAR





QUAL A RAZÃO QUE LIGA O CARTEIRO AO MORTO ?

AS PORTAS FECHADAS !

MOTEL, ESTADO LÍQUIDO, SARTRE E AMOR



segui sem sequência pelo risco branco do asfalto cinza

depois de sair do motel em mem martins, o cinza do fumo da cigarrilha

perfumava o estofo do carro e amarelava os dentes caninos, os restantes molares já saltaram

pela boca fora.

ainda assistia em ecrã de cinema à minha frente, aos últimos minutos do fragmento

que se soltou entre mim e elas as duas.....

não me lembro, como toda a gente, ao processo de confecção

tenho o gosto nas papilas gustativas

e o aroma traçado em sabores que se soltaram daqueles gritos de dor consentida...

sai mal, em desfalecimento de parte sólida...


estava em estado de liquído

não era a primeira vez que estava em estado líquido após suar tipo fonte mineral...

deu-me para reflexão de existência à Jean Paul Sartre

quando perante nós, sem ninguém a assistir, consideramos que afinal somos muito pouco

somos grão, nas ilhas

inventamos a figura de deus só para nos poder perdoar depois de fazermos merda

e assim estarmos ilibados de assumir o nosso livre arbitrio.

A facilidade que se sai de uma foda e se reflecte sobre o sartre , é espantosa e imbecil...

ser líquido depois de foder, ainda é possível, ficamos leves e escorregadios...

isso não é o cerne do problema

o problema é estar entre vidro quebrável

e isso assusta e afasta os pretendentes a amar

pois há quem não se arrisque a amar

e têm razão !

amar para sofrermos uma metamorfose em estado líquido ?

e ainda por cima o recipiente que nos segura é vidro quebrável ?

onde está a segurança e a certeza que todos querem ter no amor ?

não há ! o vidro não disponibiliza essa permissa de segurança.

ele quebra e estilhaça em pedaços incontabilizados

e escorre sobre o chão o líquido que nos resta

ANDRINAINA - A FOTO REVELA UM PEDAÇO DE CARNE



este pedaço suculento é uma parte inferior do pernil

da andrinaina.

tem 3 mil amigos no facebook

adora dançar e adora fazer bolos

é uma mulher com forte ambição de vida

o fotografo apanhou esta perspectiva dela,

não é o melhor lado dela....

mas, enfim, traduz o que ela é ..... um pedaço de carne...

(dedicado a todas as mulheres que se resumem à carne que se come)

O NADA É PRETO, AS MULHERES SÃO BRANCO QUE RELUZ



O preto é intensidade que rodeia o branco

não há branco brilhante e imaculado sem preto de tom negro

é preciso a morte de uns quantos para valorizar a vida de outros tantos

quando vejo o outro morrer em tons de preto, vou ao espelho e retoco o meu branco, passo-lhe

brilho, dou-lhe tonalidade

o preto é muito pouco na imensidão, ele indica-nos o limite e o vazio

olhem para o oceano a esta hora  ! já olharam ?

eu estou a olhar agora, e não vejo nada, vejo o limite de mim, é até ali, até ao foco daquele candeeiro

mas, o que é que o preto tem latente em si ?

a magia de não existir nada, de ser nada, depois de multiplicado por dois, é nada .

quem é capaz de não ser nada ? poucas coisas, e o preto é uma dessas coisas

capaz de não ser nada com plenitude de vazia e de ausência de qualquer coisa.

a densidade do preto é uma fábula infantil, nela alguém conta uma história a uma criança

onde começa.... era uma vez a fábula do preto, quando ele surge tudo desaparece, a cor tem a magia

de absorver tudo e de dizimar o que lhe cerca

e o que faz ser tão branco no preto ?

duas mulheres sentadas, de costas, de cabeça caída sobre os ombros alternados de cada uma delas

elas brilham na cor do preto que rodeia como se fosse um animal a rodear a presa para a matar

e elas são branco que reluz, elas, estas duas mulheres são luz, incide nelas a luz

que as faz sair do nada que é preto e ficam imutáveis ao centro, sentadas e com o olhar a incidir

sobre o nada...

se há quem goste de fixar nada e de se perder nessa quietude do nada

são as mulheres...

as mulheres vencem quase sempre o preto

e é mentira, quando dizem que com o preto não se comprometem !

elas são sempre branco

nelas sujamos o branco inato a elas, com o nosso castanho de infidelidade

nelas sujamos com o nosso cinzento de falta de certeza na hora de dizer não a tudo o resto



TENTATIVA DE SER ESCRITOR




o que sou no que aparento aos outros ?

sucedido, bem sucedido..

escritor ?

não, sou uma "tentativa de ser escritor", e este é um processo que demora anos

ou mesmo uma extensa vida, pior que tudo, posso nunca passar a ser mais que uma "tentativa de ser escritor", tenho isso muito claro....

quando lhe disse, estou a pensar editar um livro...

ela, surpresa com tal idiota ideia...

quem em agosto, depois de vir da praia, lembra-se, quero editar um livro ?

um idiota, claro...

ela acrescenta, tu só escreves às vezes... e ainda assume, tu nem és um escritor, assim, tchhhht

(a tradução certa de tchhht, é : não és um escritor nada de especial)

está ela certa ?

sim, claro....nunca lhe expliquei o que é uma "tentativa de ser escritor"

E NUNCA LHE EXPLIQUEI PORQUE NEM SEQUER EU SEI.....

Confuso ?, sim.   mas, é fácil desarmar esta encruzilhada...

O QUE SOU ?

sou uma tentativa de querer ser qualquer coisa, sou uma tentativa de ser escritor...

primeiro, desprezo o titulo de ser escritor

depois minimizo a importância de ser um escritor

então porque me assumo "tentativa de ser escritor"  ?

porque há mais de 20 anos que estou preso a esta teia...

a primeira vez que me apaixonei escrevi textos à minha musa filipa

passados 3 anos, editei em folhas a4 com argolas dois cadernos de poesia e vendi na escola

escrevi peças de teatro, desde os 18 anos e ainda escrevo teatro aos 41

tenho centenas de textos, desde os 15 ou 16 anos que enviava textos para o dn jovem, secção do diário de notícias e li e reli as críticas dos coordenadores

e a maiora das vezes eram críticas muito más

perto dos 21 anos

escrevi 2 textos para o jornal de letras, com uma crítica muito boa pelo jornalista coordenador pelo

jornal de letras, antónio gomes

escrevi em jornais de parede na escola, em revistas impresas na escola, de colaboração em revistas publicadas para o público

escrevi  em jornais de pequena escala

há mais de 20 anos que escrevo, escrevo e escrevo


ESTAS SÃO AS RAZÕES PARA QUERER CONTINUAR A SER UMA "TENTATIVA DE SER ESCRITOR"

ou se calhar, o que faço é alinhar sequências de frases e encaminhar palavras em linha recta

porque me apaixono pelas palavras, pelas personagens, pelas imagens que consigo criar ao escrever algo

sinto-me fascinado pelo resultado de um texto

ele ou me deixa excitado ou me de deixa mergulhado numa revolta

é sempre preferível tentar do que realmente ser uma merda

enquanto eu tentar, nunca serei um escritor de merda e de cordel

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O MEU ÚNICO AMIGO ! EDUARDO ALEXANDRE PINTO



TENHO UM ÚNICO AMIGO ?

SIM.

HÁ MAIS DE 20 ANOS.

NÃO NOS FALAMOS HÁ MAIS DE 3 ANOS.

CHAMA-SE EDUARDO ALEXANDRE

ONTEM PASSEI PERTO DA CASA DELE E LEMBREI-ME DA SUA EXISTÊNCIA

PORQUE NA VERDADE A EXISTÊNCIA DELE É UMA PARALELA A MINHA

E NÃO É DETERMINANTE EM MIM

NA VERDADE NÃO ME FAZ FALTA

NA VERDADE FAZ PARTE DA MINHA EXISTÊNCIA

PORQUE NÃO NOS FALAMOS ?

SEI LÁ !

SIMPLESMENTE NÃO NOS FALAMOS.

PORQUE É QUE É NECESSÁRIO FALAR COM O NOSSO ÚNICO AMIGO ?

NÃO, NAO É NECESSÁRIO

A AMIZADE SÉRIA ESTÁ LATENTE EM NÓS

SEM SER PRECISO POR LIKES E GOSTOS E OUTRAS MERDAS...

NÃO NOS FALAMOS HÁ MAIS DE 3 ANOS

MAS, GOSTO DELE, ADMIRO-O COMO ESCRITOR, ELE SIM GENIAL

E COMO COMPANHEIRO DE PENA

SEI QUE ATRAVESSA UM DESERTO ÁRIDO DE PROBLEMAS PSICOLÓGICOS

DE LUTAS CONTRA PANICOS E FOBIAS

NUNCA LHE VIREI AS COSTAS POR ISSO

TAMBÉM NUNCA ISSO ME OBRIGOU A SER MISERICORDIOSO COM ELE

CONTINUA A SER PARA MIM, O ALEX PUNK

COM ELE FOMOS ACUSADOS DE LADRÕES DE LIVROS DA BIBILIOTECA

TINHAMOS 18 ANOS, VESTIAMOS DE PRETOS, OUVIAMOS MÚSICA DE VANGUARDA

E ALTERNATIVA, E GOSTAVAMOS DE POESIA E REQUISITAVAMOS

CERCA DE 20 LIVROS POR TARDE

POR ISSO FOMOS ACUSADOS DE LADRÕES

A MIM TIRARAM FOTOS E IMPRESSÕES DIGITAIS

FOI A PRIMEIRA VEZ E A ÚLTIMA VEZ QUE FUI A UMA POLICIA...

PASSADO UNS TEMPOS DESCOBRIRAM QUE NÃO FOMOS NÓS...

A ESCOLA ACUSOU 2 ALUNOS QUE GOSTAVAM DE POESIA E QUE PASSAVAM

TARDES INTEIRAS A LER LIVROS A ESTAR RODEADOS DE LIVROS....

QUE INTERESSA ISTO ?

INTERESSA A MIM E AO MEU ÚNICO AMIGO, EDUARDO ALEXANDRE

COM ELE DESCOBRI O GOSTO DA COMPANHIA DOS LIVROS E DA POESIA

ESCREVEMOS POESIA JUNTOS

SOMOS COMPANHEIROS DE PENA....

A DATA DE HOJE NÃO SEI SE ESTÁ VIVO OU MORTO ?

SEI QUE N\AO GOSTA DE ANTONIO LOBO ANTUNES E QUE O CHAMA DE LADRÃO E

DE FALSÁRIO, TEVE PROBLEMAS COM ISSO E CHEGOU A ESTAR INTERNADO NUMA

ALA PSIQUIATRICA

ISTO FOI A 3 ANOS, DISSE-ME NUMA CONVERSA TELEFÓNICA EM MONOLOGO

MUITO CONFUSA...

EDUARDO ALEXANDRE, ÉS E SEMPRE SERÁS O MEU ÚNICO AMIGO

PORQUÊ ?

PORQUE A IDADE TORNOU ISSO FORTE, PORQUE NÃO TEMOS QUE FALAR, NEM

SINTO OBRIGAÇÃO EM FALAR TE E TER QUE TE VISITAR

ESPERO QUE ESTEJAS VIVO E LÚCIDO

QUE CONTINUES COM A MENTE INTELIGENTE E DE GRANDE ESCRITOR QUE ÉS

ÉS O ESCRITOR QUE EU INVEJO, NÃO TENHO O TEU TALENTO

TENHO A TUA INSPIRAÇÃO

NÃO MORRAS SEM EU SABER EDUARDO ALEXANDRE

NÃO TE DEIXES INTERNAR NEM TE ROTULAREM DE LOUCO OU DE DEMENTE

RESISTE AMIGO, ESTEJAS ONDE ESTIVERES !

ESTARÁS EM CAMPOLIDE NO MESMO APARTAMENTO ?

NUM LOCAL TENHO CERTEZA QUE ESTÁS....

NA PAREDE DA MINHA VIDA, NUMA MOLDURA BONITA, COM OS JESUS E MARY

CHAIN A SE OUVIR NO CD, COM OS TEUS SIMBOLOS PUNKS NA PAREDE DO TEU

QUARTO,

EDUARDO ALEXANDRE, ÉS O MEU ÚNICO AMIGO....

UM DIA DESTES VAMOS ESTAR DE NOVO JUNTOS...

QUANDO ?

NÃO SEI !


(já agora, ó pinto nunca mais és galo....????  foi assim que me metia contigo várias vezes....)

SERÁ QUE CONTINUAS A FODER AQUELA GORDA PSICOLOGA DE CAMPOLIDE ?

TARADA E MALUCA ????



O QUE TENHO LATENTE EM MIM ?


O QUE TENHO LATENTE EM MIM ?

PELA TOPONOMIA DA PALAVRA

É O CONTRÁRIO DO QUE MOSTRO....

E O QUE MOSTRAMOS AOS OUTROS ?

FRAGILIDADES DISFARÇADAS

FRAGIIDADES ARTILHADAS DE FALSA MODÉSTIA

PARA CONQUISTAR MULHERES IMBECIS

FRAGILIDADES QUE OPERAM UMA MILAGROSA METAMORFOSE

E PASSAM A SER FORTALEZAS


HÁ QUEM PASSE AOS OUTROS O MELHOR QUE GOSTARIA TER !

MAS, NÃO TEM !

SÃO MEDIOCRES, INÓCUAS PESSOAS

DERROTADAS NESTE JOGO, CHAMADA "VIDA"

O QUE EU TENHO LATENTE EM MIM ?

DESEJO DE IR MAIS ALÉM.....

PRETENSÃO EM SER BOM

META TRAÇADA DE FAZER E REALIZAR COISAS....

VICIO APURADO DE FAZER A FUSÃO DE AMOR, SEXO E POESIA

DE FAZER DE UMA FODA O MOMENTO SUPREMO

DE FAZER DE UM TEXTO ALINHADO EM FRASES E LINHAS

UMA VERDADE A DESCOBRIR

QUE A POESIA SEJA O ESTALO

QUE A FODA SEJA A NOITE QUE NOS ADORMECE E EMBALA




Esta foto é uma homenagem a todos os burros que não tiveram a oportunidade de terem nascido cavalos !

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

OS PLANOS E AS PERSPECTIVAS DO ROSSIO E DO SEXO


PERSPECTIVA DO PLANO DE OBSERVAÇÃO




plano
a dimensão dos episódios que a vida nos cede
depende do plano
a perspectiva de observação sobre o episódio é determinante
para nos matarmos ou para nos elevarmos como vencedores

um café no rossio
não é um café no rossio
pelo menos no plano donde quero estar

e estou num plano baixo, inclinado e na sombra
interessa-me ver estes lados dos episódios que decorrem ao meu olhar

um café é da dimensão de uma estátua do largo do rossio
mas, não é verdade
sim, é verdade
no plano que me coloquei
no plano que quis registar com a polaroid

a chavena de café do amo-te é da dimensão da estátua do rossio

quem me diz que não
perante o meu plano

há verdades que dependem de como se olha, o que se registou








                                  PERSPECTIVA DO PLANO DO DESEJO




prefiro o toque à pele que enruga ao frio
do chão do motel frio
ao largo da noite cerrada e marginal de sintra

o corpo semi nú
está difuso ao longe
parece longe de mim
isso faz-me estar à beira do descontrolo do instinto

e o único instinto desta imagem é o de devorar "carne"

há mulheres que o desejo só é avassalador
se estiverem longe e inacessíveis
quando elas sofrem uma metamorfose e ficam visiveis
esse mesmo desejo vai se tornando "brando lume"

a distância é o maior afrodisiaco
para os "complexos" humanos
que com pretensões de inteligentes
se afastam dos animais que agem por impulsos e por instinto

anda cá minha fémea
sai dessa difusidade opaca que o vidro te protege

vem directo ao meu toque que te vai destruir a falta de amor
que a maioria das mulheres tem...

se eu alterar a perspectiva do sexo, do amor ou do desejo
a mesma mulher, a mesma imagem de mulher mas difusa
pode ser diferente

o desejo vai se ajustando
a nível que estamos colocados para observar e para copular

há uma coisa que me irrita, bailarinas do suburbio com poderes de tarot e de reikhi
há uma coisa que me agrada
as putas que tem uma tabuleta com o preço marcado
como nas caixas de fruta em qualquer mercado

não há engano ai, nem perspectiva de plano
é matemática e verdade

e dessas putas, temos  a verdade
das bailarinas do suburbio com poderes de tarot e de reikhi
temos a mentira e a falsidade