terça-feira, 1 de dezembro de 2015

ÓBITO


óbito
segundo enterro numa semana.

não há valor nas palavras
que não sejam adjudicadas pelos gestos

as palavras
são umas putas usadas e abusadas
todos lá metem o que querem

quem não dá em gestos
não recebe em nada

morreu
ontem
mais de 2 horas num profundo
e agoniante silêncio
a morte ficou ainda mais morta

a indiferença é a arma usada
para abater
pessoas singulares

ser singular
não é escrever singular no segundo nome
ser singular
é ser grande até à lua
é fazer a anti tese que todas fariam

não afinal não és
és sim banal
és cópia
és formatada


comes na praia
e depois da praia porque sim
mas não comes na poesia
nunca e jamais de nunca
eu não sou dessas
eu das outras as melhores que todas
tenho uma moral imensa
e intócavel

assim corre a história de violeta
uma míuda
vinda do alentejo
para a grande pólis

a indiferença uma vez
talvez não seja indiferença
a indiferença 3 vezes
é indiferença assumida

e indiferença é coisa reles
é o assumir
que lá no fundo eu sou muito pouco
ou melhor
lá no fundo tu interessas muito pouco

ou interessas enquanto te interessares por mim


ignorar o outro
é tirar-lhe a alma
é impedir o outro de comunicar
levanto-me uma vez e viro costas
olho para o lado e ignoro tudo
que superioridade


dá-me a mim
continua a dar-me a mim
dá me vida
que eu fornico umas palavras gastas e vazias
e ordenho as palavras em folhas a4
e não te dou nada
nunca te dei nada
é mais cómodo receber... claro

os recados são dados
por quem é mediocre
necessidade imensa de impedir
qualquer coisa que ninguém sabe
porque lá no fundo não tem conicções

inútil
pura infámia
quem não tece um toque
de carinho

estou temporariamente morto
fui traído por aquilo
que gosto as palavras armadilhas

até nunca mais

há coisas
que são demasiados
importantes
para estarmos de lado da barricada
de moral rasca dos banais
quem não está
morre

silêncio
ignorância
indiferença
desrespeito
uso superfúlo das palavras
sem serem sentidas

e as palavras são coisas sérias