terça-feira, 1 de dezembro de 2015

ÓBITO


óbito
segundo enterro numa semana.

não há valor nas palavras
que não sejam adjudicadas pelos gestos

as palavras
são umas putas usadas e abusadas
todos lá metem o que querem

quem não dá em gestos
não recebe em nada

morreu
ontem
mais de 2 horas num profundo
e agoniante silêncio
a morte ficou ainda mais morta

a indiferença é a arma usada
para abater
pessoas singulares

ser singular
não é escrever singular no segundo nome
ser singular
é ser grande até à lua
é fazer a anti tese que todas fariam

não afinal não és
és sim banal
és cópia
és formatada


comes na praia
e depois da praia porque sim
mas não comes na poesia
nunca e jamais de nunca
eu não sou dessas
eu das outras as melhores que todas
tenho uma moral imensa
e intócavel

assim corre a história de violeta
uma míuda
vinda do alentejo
para a grande pólis

a indiferença uma vez
talvez não seja indiferença
a indiferença 3 vezes
é indiferença assumida

e indiferença é coisa reles
é o assumir
que lá no fundo eu sou muito pouco
ou melhor
lá no fundo tu interessas muito pouco

ou interessas enquanto te interessares por mim


ignorar o outro
é tirar-lhe a alma
é impedir o outro de comunicar
levanto-me uma vez e viro costas
olho para o lado e ignoro tudo
que superioridade


dá-me a mim
continua a dar-me a mim
dá me vida
que eu fornico umas palavras gastas e vazias
e ordenho as palavras em folhas a4
e não te dou nada
nunca te dei nada
é mais cómodo receber... claro

os recados são dados
por quem é mediocre
necessidade imensa de impedir
qualquer coisa que ninguém sabe
porque lá no fundo não tem conicções

inútil
pura infámia
quem não tece um toque
de carinho

estou temporariamente morto
fui traído por aquilo
que gosto as palavras armadilhas

até nunca mais

há coisas
que são demasiados
importantes
para estarmos de lado da barricada
de moral rasca dos banais
quem não está
morre

silêncio
ignorância
indiferença
desrespeito
uso superfúlo das palavras
sem serem sentidas

e as palavras são coisas sérias

sábado, 28 de novembro de 2015

PUNHO

o punho fechado
em pose
disfere na carne macia


não devemos caminhar com os pés descalços
sobre as brasas
se não formos ao tibete
e perceber que através da meditação
e da evocação de mantras

consegues ter o mundo
na palma da mão

não olhes se não sabes
detalhar

assisto ao desmoronar da razão
estava tão perto
estremece num abraço
tudo o que julguei ser suficiente

confuso hesitante dúvida
certeza consciência limites
linhas certo e errado ter fazer ser ou nada

a minha retinha do olho
vacila nas lembranças do passado
coleciono os medos
para os juntar
abres tu a porta do interior
a voz é purificada
e liberta
configuro os TEUS medos
avanço e derramo no vocabulário

a linguagem é um virus
os medos e a dúvida uma doença
terminal
vim de lá depois do tejo

SÓFOCLES adão putas belo GENET E FELLATIOS e são tomé e principe



para mim pode ser gin bulldog e maçã golden
ao quarto gosto das
putas PINTADAS POR EDGAR DEGAS OU TOULOUSE LAUTREC
encontro sempre pinturas destas nos melhores motéis
da cidade velha e canastra a 30 euros 4 horas de desespero
para encontrar o momento que nos supera como banais
e nos faça ser belos
ANIMAIS BELOS DE PÉLO CURTADO na vulva
COITOS  INÓCUOS de banais
GORDAS BELAS DE RENOIR que comem queijo roquefort e brie em panquecas
luzes verMelhas do red light district
incidem nos canais de amesterdão
HOMENS VESTIDOS DE MULHERES rascas
FEIAS E NOJENTAS
VIREM EUNUCOS aqueles que não saltem para o belo e singular
come cospe engasga e vomita
para quem ter engenho e agucidade nas palavras e magia
no que diz
as tuas palavras tem boca e dentes que mordem em sangue
elas despertam elas fodem te à bruta e deixam-te no chão 15 minutos a pairar
e repete calada a gritar ... foda-se o que se passou aqui ?
tens lume ?  tenho autocarro até a meia noite na ajuda...



sai jorro da tua saliva banal
vais te esvair em nada
depois de torcida as tuas calças sujas
cumpre as 9 horas do programa
arde brando
lume torcido

mortos empilhados na vertical
com vivos sentados a comer charutos montecristo
na dobra da espinha dos declarados em óbitos
aqueles que passaram por cá e não acrescentaram nada a puta da vida deles e dos outros
eu sento-me nos cadávares desses bem mortos e aprumados
a ler os livros de jean genet

paneleiro de merda sabotador de jovens marginais de pais abandonados
francês de sotaque argelino e parisiense de montmarte
pergunta uma jornalista puta do le monde
de cabelo preto esticado sotaque doce e olhos meigos de cão perdido e com medo
senhor genet para onde conduz a sua vida e os seus livros

o merdas do jean genet responde
....para o esquecimento....

rasgo os livros do ezra pound
as porcas prenhas de qualquer tronco de árvore em formato fálico
onde saltam e enterram-se
comem as ninhadas regadas a barca velha do douro
não lhes conhecem o focinho
tu corres atrás de quem te gosta e te venera
és frágil que nem uma gotícula de orvalho
que cai das pétalas quebradas de qualquer tulipa podre

a diferença de putas
padres, artistas de palco e vagabundos
todos conspiram pela piedade
todos comem dejectos da cidade
e arrotam caviar feito de minhocas na penumbra da vida dos
que são nada dizem o que ouvem esperam nada e tem como objectivos de vida nada

sou arrogante calvo e de barba feita de 4 dias pego na faca montblanc de cor fina
escrevo feroz com corte de lámina
furo-te e não jorra sangue
as palavras são de metal contaminado
pela verdade que não tens capacidade
de ver nem sentir

lambe latrinas
nos wcs dos jardins públicos
a urina depois de champanhe é aromatizada
as ostras com trufas
são infâmias para esse teu palato
pegas no mentol e disfarças
o fellatio que fazes  nas esquinas
urinadas
lambe o livro de antigona
deixa a tua saliva conspurcada
nas páginas amarelas do tempo
escreve sófocles
.. é belo aprender com aqueles que falam acertadamente...
pergunta sacral do grego
...não é ela digna de receber honras gloriosas...

o patife arrogante feroz cão de raiva presunçoso
na argumentação na sapiência articulada e clara perspicácia
de nome adão acrescenta a sófocles
...não lhes dés aquilo que não conseguem ver de belo....

não és nada miguel adão pedro baltazar jorge  roberto
és tanto de tudo e tão pouco de nada
adão cobre te num manto macio
de veludo e entrega-te ao éxito e ao reconhecimento do génio a trabalhar
deixa os cães de  saltarem para o coito anal

morde o disco 44 rotações do wagner
ouve até ao desmaio da capacidade a obra tristão e isolda
obriga te a saber o que é belo e singular de perceber o que é belo e singular
de exigir o que é belo e singular
cospe para o ar e abre o ventilador
espalha pela multidão a náusea
e aproveita para saberes quantos sabem de quem é o livro a náusea ?
e acima de tudo o que é ordinário
pega na marreta pintada de branco
e fode esse piano rega em álcool do melhor jameson de 18 anos
e pega na merda do charuto que chupas com elegância
e queima o piano como fez john cale
e debita astrix skazi goa infected void e vibe trive
tira a língua de fora e ri te alto
deixa-te de queimar cubanos de jóse l piedra a dois euros cada e crava-os acessos na tua mão
que masturbas a eloquência e a força grande das palavras e das tuas ideias
que movem mundos

lembra-te que em 2015 há quem jante banana prata e banana pão
como aquela velha sogra curvada nas cozinhas barracas
cozinhado em panelas furadas e negras
por cima de lenha ardida e carvão no chão
lembra-te de são tomé e principe
o peixe em cima a secar
e por baixo a lama e os porcos a vasculhar e procurar os dejectos

e acima de tudo
a esperança daquela criança de ilheu das rolas
a olhar para ti e a querer o mundo
tu deves o mundo a ela
ela precisa de tão pouco para ter tudo
desde que saia daquela roça de cacau da dona antónia




sexta-feira, 27 de novembro de 2015

NÃO EXISTE MUDANÇA NEM É PRECISO MUDAR



não há mudança.
e não há, não pelo facto de não estar em processo uma mudança
não há porque estamos perante um embuste

mais especificamente
não há mudança no que diz respeito
a nós próprios
de mudar hábitos, tendências
características de personalidade

mudar não existe
estamos perante uma estética
e uma farsa
de manter uma esperança
e deixar isso em brando lume

nunca acontece
mas falamos nela diariamente
e insistimos que ela vai suceder

não vai
porque não existe
não são palavras ditas por nós próprias
que induzem a uma inversão das
nossas personalidades

por isso ninguém deve mudar
não é necessário sequer mudar

o que sucede são colisões
de momentos e episódios
que provocam alterações pessoais
de hábitos
de gestos
de gostos
de comportamentos

e isso é confundido
que houve uma mudança
ele mudou
ele é capaz
falso, mentira
não se muda
porque o verbo mudar
não é executável
é uma suposta pretensão

que o estado deixa no ar
a psicologia deixa no ar
o amor deixa no ar


outra coisa que deve substituir
esta imbecilidade
da mudança
são os pontos de entendimento
de aceitação mútua
de cedência temporal

e isto são factores
mais importantes que alusão
da tal mudança romântica

muitos relacionamentos
teriam francas melhorias
se desistissem destas
mudanças obrigatórias pelo outro
afim de salvar qualquer coisa

o que precisa ser salvo por norma já acabou
mas retirando esta ansiedade
que nunca se cumpre
as pessoas iriam sentirem-se melhor
em vez de pensarem
eu prometi mudar e disse que ia mudar
ele disse que mudava ele prometeu
que ia mudar tudo

nada, isto nunca se irá passar
as pessoas não precisam de mudar
precisam de ceder
precisam de ser pacientes e manhosos

camões percebes de navegação
de prostituas e vinho
e ainda de poesia épica
mas não vez uma merda
de psicologia
quais mudam se os tempos mudam se as vontades
vai te foder
andas a incitar ao engano
e as crises de ansiedade
para dar emprego aos psicólogos

alias digo mais
estes psicólogos são uns merdas
inócuos
sei eu mais como psicopoeta
do que realmente é preciso às pessoas
do que esses formatados

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O FOGUETE FANTASMA E O PÁSSARO ENCANTADO

UM CONTO DE NATAL.... texto escrito à primeira, sem edição, sem formatação sem correcção ortográfica....


O FOGUETE FANTASMA E O PÁSSARO ENCANTADO



Era uma vez uma manhã fria do domingo antes do natal.
os três irmãos, de nome, Leo, Dioni e Babi viviam em casa da avô deles desde que os seus pais se tinham ido embora, os 3 manos viviam numa aldeia no coração do rio douro, em Pinhão
mesmo junto ao apeadeiro dos comboios.
Esta estação só recebia a visita de 1 comboio 1 vez por semana, aos domingos e na maioria nem sequer parava no apeadeiro do pinhão.
Leo baptizou o comboio semanal como o foguete fantasma. 
Todos os domingos de manhã pelas 7 horas lá estavam os 3 irmãos leo, dioni e babi
à espera do “foguete fantasma”. 
O chefe do apeadeiro do pinhão, o mestre cipriano já estava habituado à presença dos 3 irmãos e só lhes dizia bom dia meninos e havia uns domingos que oferecia aos 3 um chá quente e umas bolachas maria.

No entanto naquele domingo Cipriano vai ter com os 3 irmãos e pergunta-lhes...
digam-me meninos porque é que vem aqui todos os domingos ver o comboio que nunca aqui para só muito raramente.
Babi a mana mais nova encolhe os ombros, dioni responde gostamos de ver o “fogue…. o mestre cipriano interrompe logo
ver o fogue ?? mas que raio é isso meninos ? 
babi apressa-se e responde é o “foguete fantasma” senhor cipriano…
leo acrescenta, demos esse nome porque ele é muito rápido e só aparece uma vez por semana.

Cipriano senta-se junto a eles, muito bem meninos, mas digam-me mais a vossa avô virginia sabe que aqui estão.
babi, responde de modo inocente não…
leo interrompe e atropela a sua irmã mais nova, sim, sabe..
deoni levanta-se e diz, senhor mestre cipriano ela não sabe nós levantamos devagar saltamos a janela da cozinha e vimos até cá…

Cirpiano insiste ai ai ai meninos não podem sair de casa sem a vossa avô saber pode ser perigoso, nem toda a gente é amiga mas o que procuram afinal ?

Babi responde , procuramos os nossos pais.
Cipriano, os vossos pais ? mas como ?
Leo diz-lhe, eles foram se embora num domingo há muitos anos neste mesmo comboio, o foguete fantasma..
Deoni acrescenta nós temos a certeza que um domingo destes o foguete fantasma vão trazer de volta os nossos pais para nos virem buscar e nós irmos viver com eles…

Cipriano abraço os 3 irmãos e diz-lhes… talvez eu vos possa ajudar meninos…

Que fedelhos são estes cipriano ? que raios vêm a ser esta converseta ?
era a tia avô do mestre da estação, ela era muito zangada..

pará lá com isto cipriano e tira estes fedelhos daqui senão pego na vassoura e corro todos à vassourada…
grita a tia avÔ de cipriano..

Venham comigo meninos, diz cipriano.
pára junto à linha do comboio, que se perdia no escuro da noite, hoje o vosso “foguete fantasma” vai parar..
babi grita, e os meus papás estão lá ??? estão 
deoni mais calmo pergunta, o senhor mestre sabe se eles vêm hoje, é por causa de ser véspera de natal ?

calma meninos, diz o mestre cipriano..
não sei se os vossos pais vêm neste foguete antes do natal que está a ai a chegar..
hoje o comboio vai chegar.

a sériooooo, boa boaaaa, ehhhhh, ahhhh
todos os 3 irmãos comemoram como se fosse hoje a véspera de natal para abrir as prendas.
eles estão a chegar, eles estão a chegar… na nanananan

Cipriano levanta-se e acalma os 3 irmãos.
Eu não disse isso meninos.
Eu quero dizer que hoje está a chegar uma senhora francesa aqui ao pinhão que me enviou um telegrama há mais de 1 mês, onde me diz que ela traz uma ave rara e mágica.
Um pássaro ? mas como se chama, é mágico, os 3 falam uns por cima dos outros.

é um pássaro encantado com poderes mágicos.
Leo pergunta, mas quem é essa senhora ?
é uma velha feiticeira e curandeira que saiu aqui do pinhão há muitos e muitos anos atrás e está a voltar com este pássaro mágico..
deoni e será que esse pássaro nos pode ajudar mestre cipriano ?

se conseguirem o soltar da gaiola dele, sim.
boa boa….voltam a gritar todos…

passado uns momentos o “foguete fantasma” começa a apitar e os 3 irmãos com os olhos maravilhados e muito abertos assistem à entrada da linha à chegada do “foguete fantasma” que naquele domingo antes do natal vai parar.
Do comboio preto saiu apenas 1 pessoa e mestre cipriano vou ajudar a tirar a enorme gaiola com tal raridade de pássaro …
Os 3 irmãos foram pela parte de fora da linha e aproximaram-se da gaiola, mas assustaram-se com os gritos da curandeira..
Mestre cipriano cuidado com a minha raridade, se lhe acontece alguma coisa eu deixo crescer esse nariz até ao chão e coloco pelo como se fosse um rabo
de raposa e ainda te coloco umas orelhas de coelho…

No entanto a curandeira vai até à casa de banho e mestre cipriano faz sinal aos 3 irmãos..
Estes aproximam-se da gaiola e fazem pequenos sons para o pássaro encantado..
este começa a mexer-se e acende as suas asas com umas luzes brilhantes…. os manos abrem a parte de trás da gaiola e o pássaro sai..
Este fica a mexer as suas asas enormes e os manos ficam parados perplexos com tal grandeza e com tanta luz de umas asas mágicas…

O pássaro encantador pergunta, obrigado meninos por me libertarem, há mais de 10 anos que não saio desta gaiola, estou sempre preso e sou obrigado a ir de feira em feira fazer trapalhadas e assustar as pessoas com essa curandeira feia..
Agora estou livre meninos, obrigado, diz o pássaro encantado aos 3.

Babi apressa-se a agarrar o pássaro e pede-lhe , nós queremos passar este natal com os nossos pais que há muito tempo que foram se embora, só este natal, por favor..
Leo conforta a sua irmã, calma babi, mas sim senhor pássaro nós só queríamos este natal passar com os nossos papás.

O pássaro baixa-se e diz -lhes …só há um lugar no mundo onde isso pode acontecer….
onde onde diga senhor pássaro bonito e cheio de luz , volta a gritar babi agarrada às suas pernas.

é no reino de algodão..
Os 3 ficam quietos e de boca aberta.
e no mesmo tom perguntam , REINO DE ALGODÃO ?

O pássaro abre as suas asas e acolhe os 3 irmãos em segurança, e segreda-lhes
vamos meninos vamos voar até ao reino mágico de algodão, fica para cima das nuvens num local muito secreto…

assim foram, voaram voaram no alto, o pássaro encantado segura os nas suas asas e não deixa eles apanharem frio..

ao chegarem a uma zona toda branca percebem que chegaram ao reino mágico de algodão, o pássaro aterra, pousa os 3 irmãos e abre as asas..
eles ficam maravilhados com tudo de branco ao seu redor..
e perto deles está 1 árvore mágica de algodão…

o Pássaro diz, vão até lá digam 1 desejo igual a todos, tirem o algodão mágico da árvore
e pensem todos num desejo e pensem numa pessoa em silêncio e se esse desejo for igual aos 3 isso vai acontecer..
os 3 irmãos irmãos assim fazem… pensam, tiram algodão da árvore..

e o pássaro fala para eles… leo, babi e deoni, já sei o vosso desejo e o vosso pensamento igual dos 3..
os 3 questionam, é o quê é o quê ?

o pássaro responde, VOCÈS os 3 pensaram todos na vossa avô virginia, nos momentos junto às brasas onde elas vos conta todas as histórias infantis , onde ela
vos canta todas as canções infantis, onde ela vos ensina os truques para apanhar pássaros pequenos com cola e plástico e onde ela voos dá um leite aquecido com mel e hortelã e aquelas broas de mel quentinhas a sair do forno….

é nela que vocês pensam os 3 …. é ela o vosso desejo..

os 3 ficam espantados, mas durante a declaração do pássaro encantado eles sorriem ao lembrarem se das coisas que a avô virginia fazia com eles ao longo dos anos e ficam todos contentes ao saber que uns e outros pensavam o mesmo..

babi pergunta de novo … então e os nossos pais ?
O pássaro responde esse vosso desejo é natural e segundo eu sei, os vossos pais estão a chegar a casa da vossa avô, num carro vermelho, um carro chamado carocha, eles já não andam de comboio, e eles já estão à vossa espera…

que bom que bom, percebemos quanto amiga e importante é a nossa avô velhota ao longo destes anos e ainda temos a prenda este ano dos nossos pais que nos vêm visitar… boa boa  (falam os 3 ao mesmo tempo)

pássaro encantado termina a dizer, por vezes temos que afastar nos dos desejos antigos e pensar que a magia existe e nesse momento acabamos por querer e pensar noutras coisas que NOS esquecemos porque estão ao nosso lado todos os dias e apesar de ser velhota e estar cansada a vossa avô virgina tem o coração do tamanho deste reino de algodão e  ama- vos acima de tudo..

viva a nossa avozinha… viva a avô virginia… viva…… 

134 PAZADAS NO MEU PRIMEIRO FUNERAL

134 PAZADAS NO MEU PRIMEIRO FUNERAL


(homenagem ao senhor R que falava muito comigo do benfica
e que morreu ontem, boa viagem)


não há melhor filosofia
do que a escrita nos pacotes de açúcar

ao pedir um café
ganhamos sapiência
e no pacote a mim sai-me

"não há nada melhor que morrer
para dar real valor à vida "

a seguir leio a merda de um jornal qualquer
há que dar o ar de interessado pelo ecosistema

saio e vou até à capela
ao centro estou lá
com uma placa
aqui jaz policarpo

quantos foram ao meu funeral ?
isto faz a diferença na felicidade
que posso vir a ter hoje

foram 13 pessoas.
não, foram 12 pessoas e 1 cão.
não um cão qualquer, um grand annois
que dei há uns anos atrás
como se fosse uma coisa que se oferece
por sinal Box era um excelente amigo

em caminho do cemitério
foram todos atrás de mim de forma ordenada
e até por prioridades
os que me adoram, eram 3
os que me amam, eram 1
os que me toleram, eram 8
os que fingem, eram 1
todos foram em silêncio
um silêncio aparente
porque não há silêncio
enquanto ouvirmos a nossa voz dentro da nossa cabeça

digo vos que estar morto não é muito agradável
fico com os pés encolhidos
e isso aborrece-me
gostava que em dissessem quem mandou
fazer a minha caixa negra a um senhor de 87 anos
e porque me deram 1 metro e meio de cumprimento
é essa a minha dimensão ?
1 metro e cinquenta ?
nunca fui grande em vida
sempre fui maior
e aqui hoje, está a prova, sou maior que o metro e cinquenta
da caixa negra (na realidade era cor de mel tipo pinho, muito bonita para pôr
nas entradas das casas a condizer com os móveis de cozinha do Ikea)

adiante...
na tal procissão de 12 pessoas e um cão grand annois
vinha uma senhora alta, era a oitava
com uns 70 anos e com um chapéu farto de uma aba grande
a cobrir o seu corpo um casaco roxo.
ao seu lado uma outra senhora dos seus cinquenta anos e com uma casaca
de malha tipo azulado cor de vinho
esta mancava um pouco
a dor asiática ataca muito nesta idade..

a tal senhora oitava
perguntou à outra...
quem era ele ? e aponta para o carro de mão que empurrava
a minha caixa negra

a senhora de cinquenta anos que mancava com a tal casaca
de malha tipo azulado cor de vinho
responde de forma peremptória

o senhor policarpo é incompleto..
como poeta dava erros de gramática
como psicólogo nunca quis estudar durante 4 anos
e ler livros densos com mais de  50 páginas
como pai não estava presente
como marido fodia muito fora
como pessoa oscilava entre o bem e o mal muitas vezes

por vezes cuspia para a rua
e atirava papéis para o chão como um acto de revolta
outras tantas
guardava lixo nos bolsos todos
para o ecoponto

a senhora oitava de uns 70 anos com um chapéu de aba
e casaco roxo
diz-lhe
Policarpo Incompleto, nome interessante.
a outra senhora de cinquenta anos
com uma casaca de malha tipo azulado cor de vinho
espantada responde
vá para o caralho minha senhora
e afasta-se
para repor o ar adequado a um funeral
a tristeza certa na cara e os olhos a vaguear pelo chão

digo-vos eu
por esta gente que me acompanha
pode-se atestar a minha qualidade como morto
mais tarde
vim a saber
que a tal senhora de 70 anos que era a oitava
com um chapéu de aba e um casaco roxo
tinha-se enganado
veio no funeral das 10 da manhã
em vez de vir no funeral das 11 e 30
confundiu-se com as horas
que aborrecimento para ela...


da próxima vez que morrer
já decidi uma coisa
não quero acabar com pazadas de terra.
porque neste meu funeral
foram exactamente 134 pazadas que me enviaram
no buraco por cima da caixa negra
72 dadas pelo gordo que tinha as calças de ganga
a cair e dai a trágica imagem de pelos a sairem pelo cu acima
até me benzo
deus tenha piedade de todos os rabos em condições
o outro finório despachou
62 pazadas de terra

o que é isto ?
que merda de encenação é esta ?
quem escreveu isto ?
abre se um buraco banal para qualquer cão
coloca-se  lá uma pessoa como eu que viveu
mais de 50 anos com respeito e com valor
as pessoas a verem
no meu caso eram 12 e 1 cão grand annois
e depois dois tipos coveiros
pôe se num duelo de pazadas
a atirar a terra para cima da caixa
e as pessoas a verem
por quê e para quê ?

pode ser com a vá esperança
que se enterre um homem de valor
para dai crescer uma árvore ?
não, não me parece

enfim coveiros, vão para o caralho
não quero na próxima vez levar com pazadas
quero arder em lume brando
igual ao modo como vivi
a arriscar queimar me na vida
a querer sentir me vivo
quero na minha lápide

policarpo, homem que é feliz
fez -se a si
ama umas oito pessoas
e essas também lhe correspondem

quanto a elas venham de lingerie rosa
sabem o quanto sempre gostei delas
a eles tragam bandeiras do benfica

tenho que ir
esta manhã de novembro
está fria
bem podia ter escolhido morrer na primavera
era mais certo que durante o verão todos me esqueciam





terça-feira, 24 de novembro de 2015

SÚBTIL ?


estás mais subtil ?

onde escondes o impeto assertivo de ser
patife ?

um patife é suave ?
traz escamas nas costas ?

o seu hálito é macio ?

quem és ?
em quem te tornas-te ?

não sei bem o que ser
nos olhos de quem me vê
serei sempre mais
do que aquilo que esperam

a maioria das pessoas
espera na esquina
pela sombra das pessoas grandes




segunda-feira, 23 de novembro de 2015

OS CORREDORES DE HOTEIS SÃO LOCAIS DE MORTOS



longo corredor
lugar de mortes
tudo aqui foi morto

os passos dados
na entrada dos quartos
ansiedade
de fodas complementadas
com sentido de oportunidade

"este é o momento"

na saída os longos tapetes
deixam a marca
de quem sem se apressa
para esquecer
o que lá dentro viveu

longos corredores
escadas estreitas
afim
de reduzir o que somos
ao tamanho do nosso corpo
não vale apena
ter uma dimensão exagerada de nós

precisamos de 60 centimetros
encolhidos
para morrer confortavelmente
não é preciso
sequer esticar os pés

ao contrário do corredor de hotel
este estica ao longo
da nossa projecção
em procurar felicidade
quanto mais queremos ser felizes
mas longo são os corredores
do segundo adar

os corredores do hotel itapuã
são locais de mortes
anunciadas

ninguém vai a um hotel
para morrer hoje

alguns poetas vão a um hotel
para viver amanhã
para se queimarem
na bruma dos dias

todos procuram hotéis
com o melhor serviço de felicidade
ao dispor dos seus clientes


FRÁGIL AMOR


FRÁGIL AMOR 

o amor é aparente
escreve - se talvez 

o amor é estado de vidro
macio ao lençol de seda preta
que nos envolve

nesse vidro
tudo desliza à fracção de segundos
nele escorre a lágrima 
e nele fica registado
a tua respiração de quando me lês o que escrevo

nesse amor ladrilhado
ao corte suave e compassado do vidro
o amor
sincroniza com a esperança
esta ilude a verdade crua
como ratazanas negras
até estas parecem pétalas de rosas

no que sabemos todos
o amor é o maior embuste da história
dos imbecis homo erectus e habilis
descrito e aclamado em todo lado

o amor estilhaça
na cadência dos desenganos da matemática
o amor não soma 1 onde estão 2
duas pessoas são isso mesmo
sem eufemismos
duas pessoas diferentes numa sincronia perfeita
os dois correm pelas ruas
e naquela esquina esbarram um no outro
tudo vai ao chão
e é nesse embater violento do ocaso
que a sincronia 
se transforma em amor

só que está pronta a estilhaçar
aos primeiros sintomas do que cada um espera do outro
o vidro é fino
aparente força inócua

ninguém ama o outro enquanto não se amar a si mesmo
ninguém admira o outro se não tiver de si a ideia de quanto é singular
ninguém ame para ser amado
ninguém ame para ser salvo se tiver de si a ideia que está morto


frágil amor de estado de vidro

NAS TUAS TERRAS CAMINHO EU


NAS TUAS TERRAS CAMINHO EU

quando vejo o teu preto
no macio relevo
que o teu umbigo impõe
e lá está escrito

“este país não pertence a banais
e ordinários aos dias cadentes”
este país é do mais intenso
e assertivo poeta
que escreve ao afiar de laminas que cortam
a minha quietude dos dias iguais

eu percorro em ti
caminhos a dedo
tens estradas que me conduzem para ti
és um estranho lugar
para visitar apenas

nas tuas terras a sul
reside negro
uns riscos de claridade
pintam sobre este teu pais
como a luz
que me solicita a presença
sim
quero me perder
ninguém parte de viagem
sem este gosto pelo engano do caminho

a minha premissa
é
não te escrevo um bom dia
na tua barriga
se não for para me perder
neste teu país
não te quero porque te vou ter
não te conquisto pelas armas porque
te reduzo pelas laminas da minha caneta montblanc

que não tenho 

IMPROVISO TE UM RIO

IMPROVISO TE UM RIO


estás difusa
enquanto te observo

estás rígida
enquanto te olho

evitas a claridade
de seres para mim
enquanto sou dois em mim
ris e ponderas
que talvez te apaixones

dois são sempre mais que um
pelo menos na lógica da matemática

enquanto outros almoçam
eu improviso te um rio
só para ti
é feito a giz
um traço irrregular

gostas. claro
poucos são os que nos improvisam rios
tens um país
construido no teu corpo
de mulher
há quem mate para ir para sul
a tua vulva
recorre à contração
do que sentes

eu quero estar a norte
entre a cabeça que pensa
e a boca de quem beija

nesse norte
a água soletra fresco e molhado
cai sobre o pescoço em vertigem
continua a correr pelo teu seio
esquerdo que se ergue rijo

e vai para sul
onde tudo se reúne para nos fazer viver mais

improviso te um rio
que te liga a mim
um mar qualquer deste novembro
um poema que me ocorre

os teus olhos são reflexo aprumado
do que quero que sintas
de mim

estou sem tempo para amar
prefiro improvisar te um rio
melhor que o mar


NOVEMBRO PARA TE PROCURAR


NOVEMBRO PARA TE PROCURAR


no ar assobia o estalo
das castanhas quentes
o fumo enrola em cornucópias
e sobe

é nesta noite de novembro
que me apaixono
está frio
no entanto tudo aquece
quando lhe toco nos lábios

procuro te
a minha figura toma aprumo na forma
elegante de vestir-te

encontro-te inadvertidamente
sentada no café
enrolas o longo cabelo
na parte de cima da cabeça
ficas menos bonita

tomas chá
esta quietude tua
está em sincronia
com a minha procura por ti

fico triste
emprestas me um sol, um fá e um dó
componho a melodia
melancólica

e nessa música
oiço o refrão
que  me diz verdades

não há maior alegria
na procura
do que não encontrar
aquilo que é suposto
procurar

assim nada termina
continuamos a ter futuro

NÃO SEI VOAR NEM MAR



pego num pincel erecto
feito de penas de aves
para escrever que me pertences
que eu pertenço ao ar

aves estas que são penas de mim
e que pena tenho de mim
se não alcanço o ar como ave

tenho a terra seca
que me arranha a palma dos pés
salto de pés juntos
e não me solto a voar
encerro os olhos
e faço a projecção do voo
num ar azul de negro branco

e não saio daqui
a pena que tenho de mim
não me transforma em ave
esta pena e outras tantas
são incapazes da tal metamorfose
que todos ansiamos por ela

não sei escrever
mais que sete palavras juntas
não sei voar
não sei continuar a amar
mesmo quanto tudo seca ao redor
não sei mar
sei apenas ter os pés na terra seca

o problema está sempre na qualidade
do elemento que uso para escrever
é o pincel feito de penas de aves
que me impede
de alcançar o ar
ou de saber mar




domingo, 18 de outubro de 2015

POETAS PATIFES E OUTROS HOMENS



há um momento
na nossa dimensão
e refiro-me aos homens
não aos patifes poetas
estes são outra espécie de homem
aliás não são bem homens
mas animais sensitivos
que procuram inverter tudo
que insistem em queimarem-se
porque querem viver
nas fronteiras da expulsão de qualquer corpo
estranho

bem
dizia eu
que os homens ontem à noite tiveram
uma revelante epifánia

existe apenas uma oportunidade
na vida
vivida de modo permitido e encaixado
onde o homem consegue ultrapassar
a sua dimensão de corpo de 1, 78 cm

todos os curiosos
acrescentam
será na hora de fazer o amor

o patife
decifra o silêncio do papel
e equilibra-se na alma
e adianta
os tais homens
tem na sua sombra essa dimensão
extra corporal

os mesmos homens
pequenos acertados
e afinados com as regras
desafiam

ó palerma do patife
isso teve uma piada

eu cuspo
nos mais bonitos lábios
contornados a giz
na ardósia creme da tua pele
grito-te em tom inaudível

sou uma infámia
lanço supostas belezas através das palavras
que atiro do revolver da caneta

sou um impostor
esqueçam-me
não conto para isto

são assim os patifes
para não se confiarem neles...

ao meu lado
no café atolhado
puxam do totoloto alguém pede
uma caneta montblanc
e erguem-se para o papel

sim, não, talvez
3 quadrados
uma caneta
e uma decisão

????
o meu voto é...

ONTEM DETALHEI TE !


desato a rir de forma desconexa
olham para mim todos os outros
e reparam como estou apático
o quê ?
acredito que poucos conseguem ver o riso
inobservado
enquanto olham para a obra
"não para ser reproduzido"
quem o assina ? René
quem me trouxe a amarguinha ?
uma lésbica com sotaque e com cabelo roxo..
bebi a amarguinha encostada ao vidro
a tentar sair do frio
para ser verdadeiro, nem a vi, mas era roxo, de certeza !

detalho uma mulher sentada junto ao piano castanho
encostado a uma parede de papel roxo
detalho ?
não olho ?
para os imbecis é olhar
para os patifes é detalhar

antes de mais
olhar é um acto miserável e ordinário
já detalhar é uma
experiência sensorial
enquanto detalho
tu pertences me ... por direito..
porque eu sei o que tens calçado
são feios sapatos mas não te digo

sei a cor dessa tua lingerie
que ninguém usa e que funciona
como um espanta espíritos
na hora incerta
perante um homem

como te detalho escondo-te dos outros
existe um código

só há uma pessoa que nos detalha
isso é um acordo cósmico
e de uma dimensão sensorial
todos os milhares olham para nós
apenas um nos detalha

após centenas de milhares de anos de existência
acredito que nunca um homenzinho
com uma pretensão superior aos seus passos
usou para com uma mulher
aquilo que hoje uso

eu detalho em ti
nem sequer te vejo bem
as minha opemetrias atrafulham tudo

uma atenta leitora de cerca de 45 anos
que me escreve do seixal
depois de ler isto escreve-me
" o senhor pedro de adão" é um escritor fraco
usa vocabulário inexistente e dá muitos erros...
não existe atrafulham... lamento meu caro
e volte para a escola.

eu respondo com a fineza adequada a um patife
"vai para a puta da tua mãe
mulherzinha miserável e mal fodida"

depois de pedir um café com um pau de canela
mexo umas duzentas vezes enquanto detalho
e bebo..

depois arroto, com elegância claro
e digo
é um neologismo querida...
quanto ao resto é a selvajaria linguística
é o querer lixar esta gramática toda

dá jeito.

A VOLTA E SER PREGO EM MIM


estou de volta
ao local e à carne que me carrega o epíteto de patife
estive minutos afastados daqui
que juntos dão mais de um ano

e a onde voltei ?
a mim
há quem procure em nós o verso e o reverso
eu sou o estalo da substância que marca na tua nádega a minha mão
eu sou o poeta da epiderme
aquele que arranha mas não mata nem fere

no fundo estou de volta
mas nunca sai daqui
de mim
a verdade filhos da puta é que não há fuga possível para nós
muda o cabelo
começa a falar fino e compassado
desenha gestos amáveis na tua mão

mas, não deixas de ser tu
para muitos seremos nós próprios é uma sentença
fodida
para outros é êxtase da prova de vida

tu és matéria rija onde entro como prego
quero ferir e soltar esse riso
de "porra estou a sentir-me viva a sentir-me grande em mim, obrigado "

alguma vez sentiste um prego
a entrar nessa epiderme
e a acompanhar a sensação de penetração

estou de regresso a mim
eu quero ser prego
quero ter fino corte a entrar
quero sorriso nesse trajecto que te faço

quero esvaziar essa prateleira que a tua vida é
quero desarrumar
quero ser lata de feijão fora de prazo
que decides pôr no lixo
mas, que há uma inquietude em ti que leva a comer
e no fim dizes para ti "comi, arrisquei e gostei"

tens mais pregos a mão ?