segunda-feira, 23 de novembro de 2015

FRÁGIL AMOR


FRÁGIL AMOR 

o amor é aparente
escreve - se talvez 

o amor é estado de vidro
macio ao lençol de seda preta
que nos envolve

nesse vidro
tudo desliza à fracção de segundos
nele escorre a lágrima 
e nele fica registado
a tua respiração de quando me lês o que escrevo

nesse amor ladrilhado
ao corte suave e compassado do vidro
o amor
sincroniza com a esperança
esta ilude a verdade crua
como ratazanas negras
até estas parecem pétalas de rosas

no que sabemos todos
o amor é o maior embuste da história
dos imbecis homo erectus e habilis
descrito e aclamado em todo lado

o amor estilhaça
na cadência dos desenganos da matemática
o amor não soma 1 onde estão 2
duas pessoas são isso mesmo
sem eufemismos
duas pessoas diferentes numa sincronia perfeita
os dois correm pelas ruas
e naquela esquina esbarram um no outro
tudo vai ao chão
e é nesse embater violento do ocaso
que a sincronia 
se transforma em amor

só que está pronta a estilhaçar
aos primeiros sintomas do que cada um espera do outro
o vidro é fino
aparente força inócua

ninguém ama o outro enquanto não se amar a si mesmo
ninguém admira o outro se não tiver de si a ideia de quanto é singular
ninguém ame para ser amado
ninguém ame para ser salvo se tiver de si a ideia que está morto


frágil amor de estado de vidro

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