segunda-feira, 15 de outubro de 2012

TEXTOS DE 1990 / 1993 e uma peça de teatro O COISO da década de 90


recordo aqui textos escritos por mim em outubro de 1993
faz este ano de 2013,  20 anos !!! nesta época pedro de adão, ainda não se assumia nem ocupava a sua autencidade em mim,  como "alter ego" e eu usava nesta altura apenas um pseudónimo, miguel da rosa....

O Círculo das Damas 
(tributo a Ezra Pound - com alguns versos dele !)

o martelar dos pregos
o vendaval de poeira
seca e papel espalhado
letras traídas
e soletradas em cor de rosa
púbis de trigo
à espera de serem 
ceifados
morte sem fim
gosto de morte
o púbis
mergulha mais adiante
uns cordeis, aqui, meias 
lá o fogo, depois, o abrir da alma
mergulhando jóias na lama
esculpindo seios de lobos
mães sádicas
vivam nos montes de lencois
abrem as bolsas
conduzem as filhas para a cama
porcas comendo as ninhadas




Eu na terra azul

desenho raízes
num golpe cego no rio azul.
Planto e mato pedras
verdes e de seguida
colho rostos de mulheres.
A quem entrego
versos obscenos.
Indico os trilhos 
sem saída para as tribos
que esperam a morte
do homem civilizado.
Para fazerem 
festas e orgias
na montanha do sul.
Evito amar e assim não morrer.
Grito liberdade
para imaginar que sou livre.
Fornico almofadas
de seda azul e soletro
ama, no meio da noite clara 
As palavras são
armadilhas sedutoras
venham que vos 
encanto e vos minto!
Assim se lê
o slogan de um 
famoso livro que
nunca ninguém leu
porque nunca foi escrito.
Não interessa!
é um grande livro.


Mensagens sujas

Deixamos de acreditar
na poesia
quando deixamos
de apostar nas
flores cruéis que
se entregam 24 horas por dia
ao sexo e a escrever loucamente
com suaves bebedeiras.
Ainda há o problema
de aceitarmos a cidade
que nos impoêm.
Eu não o nego
aceito a cidade.
No entanto
procuro sempre fugir
pelas cinco da manhã
e sujar os muros brancos
da cidade moderna
com mensagens
"vão-se foder!"
"viva a revolução cubana!"


Incorrigível Deus Surrealista


Carrego o sangue do sol
que é roubado ao Outono
sobre o mar calmo do Maio
e quando o chamam
dizem que é frágil, bêbado,
perverso, poeta e cabrão.
Um incorrigível deus surrealista.
É o tempo que evita o relógio
e rasga anos e meses sem dias.
É o tempo do silêncio
que se apaixona pelas camionetas
do lixo.
Seduz as nossas mulheres
de sábado à noite
as que dormem com os seios libertos da seda.
E deixam o endereço delas 
gravado em caligrafia inobservada
nas pedras inacabadas
dos passeios pretos da cidade.



A Dança do Sol


Num instante o tempo desvia-se  e fica mais longo.

Os dedos tocam flauta  a língua louca rodopia
os cabelos arrastam  ondas do mar pela guerra do vento.

Os lábios abrem e mostram o monstro doce.
As ancas constroem os arcos da cópula.
O rosto rasga máscaras transforma os traços a cada impulso.

O clarim anuncia o fim das cruzes.

A manhã nasce pela tarde no terraço do dia ao sol que dança.

Crista em si bela nua desfalecida sobre os azulejos brancos.
Seus seios rendem-se ás coroas de espinho,
dobram homens em reza, ressoam enormes sons , estimulam lábios de musgo
nos rostos das pedras mortas até então, ressuscitam ao milagre
dos cachos sagrados.

Seu púbis floresce erva no lago do fogo onde seduz esmeraldas
esconde os segredos de Deus.
Assassina insectos que ousam pronunciar a bandeira das suas tropas
que avançam nas terras molhadas da traição do ventre de fé da irmã de cristo
penetram e deixam feridas.

Na manhã de noite claridades ascendem ao mar e narram lendas de fogo
à sombra do ventre que mente.
Tudo isto muito, quase nada!

O sol quando brilha  fica sempre por brilhar ainda.

O sol dança  enquanto crista quieta.
As pedras vacilam rolam em triângulo
pelas estradas da fé onde se assiste a dança louca o sol pouco.

As nádegas nascem dos azulejos como montes perfeitos da terra
o sol ameaça o pôr do sol que cai leve nas nádegas.

O sol deita-se ao mar brilha claridades líquidas
quer ter ser poder deus atirar-se em erecção 
no combate pela fé, no fogo onde a infâmia é leve.

A loucura não quer menos do que pouco tudo é melhor do que ser Deus.

O sol insiste em querer Deus masturbar-se na imagem de Maria
a imitar a mais inocente "gueixa" , foder como os cães nos becos do lixo,

fumar o "crack" que se troca nas ruas, beber do álcool
que encharca homens sóbrios, ler e rasgar as páginas dos livros de poesia,
respirar nas noites de Novembro  os sinais de fumo  da tribo das castanhas assadas,
passear pelos passeios de pedra branca do Rossio iluminado,
chocar com as pessoas
que caminham sem olhar em frente  nas estradas dos passos,
perder conversas e horas ver a noite passar num bar.

Crista desliza  com a tranquilidade inquieta  de quem faz amor pela primeira vez.
suas pernas rasgadas em ar insinuam a dor de uma viagem sem fim
seu ventre guarda o jardim mostra os canteiros  das flores sagradas e obscenas.

O sol assiste , crista  abre-se como uma puta
que no quarto de uma pensão tira a roupa toda com uma promiscuidade suja
e deixa-se ficar nua e seca defronte do comprador sem sabor a mistério.

O sol dança fox-trot em ritmo de acid-jazz
numa valsa de rock`n roll cai em ruínas fuma heroína planta pénis
e lança-os ao terraço do dia.

No rosto gasto da pedra esmagada pelo peso leve das nádegas
intoxicado pelo aroma do ventre  num ribeiro de sangue salva da seca
o sol que pede auxílio à lua
para decifrar os rastos da menstruação.

A irmã de cristo solta a mão do ventre os lábios libertam a cruz diz não ao sol
    sente no dedo o peso das mulheres daqui.

cobre o rosto com flores de nada ata-o com seus cabelos negros
solta latidos como choros de criança
conduz a dança onde o sol não se cansa deixa-o desmantelar
cair em fragmentos.

O terraço assiste ao caos crista levanta-se com a certeza de Deus
caminha com a dúvida das mulheres  pára com a traição dos homens.

Suas nádegas deixam-se pelos azulejos
como montes perdidos na terra. Seus seios
inspiram os poetas que se agarram aos cachos e imitam bodes.
Seu ventre  abre estradas
constrói labirintos derruba muros reza pelos corpos que se adjuntam nas ruínas.

Ela atira-se fora do terraço do dia,  noite? manhã? tarde?


perde-se sempre o que adoramos  pelos dias irreconhecíveis da vida.


Cinco  Mandamentos  pelo Combate da Alma 

Primeiro
(almas inquietas)

Rompi
em excessos pelas
linhas agrestes
de uma estrada
desconhecida
de terras d`além não.
retiro
da claridade cinzenta
o rosto
indecifrável.
Ignoro ousadamente
o silêncio frágil
que permanece ofusco
sentado sobre um muro
de dez milímetros
de dimensão.
Vigia
vigilante
a cidade de fogo.
Nas sombras
desenham-se farsas
susurram-se gritos ambíguos
toco sinos e agarro canetas
faço ecoar o grito
que naufraga em terra
pela tentação
de rasgar fogo a fósforos
nas sombras claras
onde ardem águas invisíveis.
Inrompo como um animal ferido
perdido, com mapas e rotas, no seu tempo, 
sem ponteiros no relógio.

Segundo
(Construir um Poeta)

Desce o rio
pelo mar que sobe
traz pela terra
o que o poeta
escreve ao mar

olho sorrindo
pelo espelho
e somente vejo
a alvorada da tristeza
que impõe versos
como torres de areia
na margem do mar inquieto

a criança plantam pêlos
pelo corpo que cresce.
esculpem em mármore de água
a alma desassossegada

nasce aquele que não é
mas que dele se diz
quase ser
um sempre não

espelho do tal rio
que desce
pelo tal mar
que sobe

nas escadas que sobem
os passos
do poeta
que apenas descem.

Terceiro
(Ergo um Obelisco ao Ventre)

Escuta-se
as rosas diluindo-se
em tempo de adágio
num sumo
que se entorna num copo quebrado
a memória ofegante
respira aromas
do seu próprio passado
reinventa-se viagens
que apenas passam pelo sítio
donde se preparam para partir.

As pedras afluem
em lábios ressequidos e vermelhos
recolhem em beijos o sangue
embriagado da reminescência
de um seio quebrado
pela coroa de espinhos
da crista
que busca nas palavras
e no trivial
o pénis para a 
salvar da santidade.

As pedras vacilam
e erguem-se
escrevem a fogo
versos de Nietzsche
nos caminhos baptizados.
Entregam-se à rota
de um ventre esquecido
de uma crista
airosa em cio.
Quarto
(Efémero Combate de uma Ave)


Carrega leve
túmulos replectos
sobre o arco
da ponte quebrada
ouve-se murmúrios
em búzios de poesia
prelúdios de fogo
de um trajecto de guerra
dentro do túmulo
corre louco e aliciante
o instinto
impectuoso de um errante.

A ave
que dura ave
que combate e voa
para somente cair
em detroços sobre a terra
e ao endereço
de um crepúsculo
tornar a combater
para assassinar o combate
e evitar que peça socorro.

Escreve nome de vento sul
para que o combate
corra pelo tempo de norte
a ave
rasga as asas que suporta
e junto à estrada incerta
pede boleia
e viaja certa pelos caminhos do centro.

Quinto
(A Ela Daquela Inércia)

Ao prefácio
de um tempo escrito
num trago de loucura
pousei-a sobre a...
uma qualquer a...
distante
do prefácio
do erro que sorri
agarrei num banco
sem mexer um dedo.
Caí sobre o chão
embora sentado naquele banco.
Deslizei em passos de água
sobre a mulher
se não mulher, um ela qualquer.
Numa inércia apressada
ela recitava imagens
negras de um medo de amanhã
perseguia cristo e tocava-lhe
no sexo, aquele que caiu na primeira tentação.
Resgava páginas da "coisa"
do moravia, escondia o resto erótico.
Gritava-me nú eu sobre o resto erótico.
Desenhei magias sobre a 
claridade negra das labaredas.
Soltei animais das imagens
da alma em insurreição.
Tinha caído frágil sobre ela
uma qualquer ela
daquelas que se masturbam com a poesia.