domingo, 18 de outubro de 2015

POETAS PATIFES E OUTROS HOMENS



há um momento
na nossa dimensão
e refiro-me aos homens
não aos patifes poetas
estes são outra espécie de homem
aliás não são bem homens
mas animais sensitivos
que procuram inverter tudo
que insistem em queimarem-se
porque querem viver
nas fronteiras da expulsão de qualquer corpo
estranho

bem
dizia eu
que os homens ontem à noite tiveram
uma revelante epifánia

existe apenas uma oportunidade
na vida
vivida de modo permitido e encaixado
onde o homem consegue ultrapassar
a sua dimensão de corpo de 1, 78 cm

todos os curiosos
acrescentam
será na hora de fazer o amor

o patife
decifra o silêncio do papel
e equilibra-se na alma
e adianta
os tais homens
tem na sua sombra essa dimensão
extra corporal

os mesmos homens
pequenos acertados
e afinados com as regras
desafiam

ó palerma do patife
isso teve uma piada

eu cuspo
nos mais bonitos lábios
contornados a giz
na ardósia creme da tua pele
grito-te em tom inaudível

sou uma infámia
lanço supostas belezas através das palavras
que atiro do revolver da caneta

sou um impostor
esqueçam-me
não conto para isto

são assim os patifes
para não se confiarem neles...

ao meu lado
no café atolhado
puxam do totoloto alguém pede
uma caneta montblanc
e erguem-se para o papel

sim, não, talvez
3 quadrados
uma caneta
e uma decisão

????
o meu voto é...

ONTEM DETALHEI TE !


desato a rir de forma desconexa
olham para mim todos os outros
e reparam como estou apático
o quê ?
acredito que poucos conseguem ver o riso
inobservado
enquanto olham para a obra
"não para ser reproduzido"
quem o assina ? René
quem me trouxe a amarguinha ?
uma lésbica com sotaque e com cabelo roxo..
bebi a amarguinha encostada ao vidro
a tentar sair do frio
para ser verdadeiro, nem a vi, mas era roxo, de certeza !

detalho uma mulher sentada junto ao piano castanho
encostado a uma parede de papel roxo
detalho ?
não olho ?
para os imbecis é olhar
para os patifes é detalhar

antes de mais
olhar é um acto miserável e ordinário
já detalhar é uma
experiência sensorial
enquanto detalho
tu pertences me ... por direito..
porque eu sei o que tens calçado
são feios sapatos mas não te digo

sei a cor dessa tua lingerie
que ninguém usa e que funciona
como um espanta espíritos
na hora incerta
perante um homem

como te detalho escondo-te dos outros
existe um código

só há uma pessoa que nos detalha
isso é um acordo cósmico
e de uma dimensão sensorial
todos os milhares olham para nós
apenas um nos detalha

após centenas de milhares de anos de existência
acredito que nunca um homenzinho
com uma pretensão superior aos seus passos
usou para com uma mulher
aquilo que hoje uso

eu detalho em ti
nem sequer te vejo bem
as minha opemetrias atrafulham tudo

uma atenta leitora de cerca de 45 anos
que me escreve do seixal
depois de ler isto escreve-me
" o senhor pedro de adão" é um escritor fraco
usa vocabulário inexistente e dá muitos erros...
não existe atrafulham... lamento meu caro
e volte para a escola.

eu respondo com a fineza adequada a um patife
"vai para a puta da tua mãe
mulherzinha miserável e mal fodida"

depois de pedir um café com um pau de canela
mexo umas duzentas vezes enquanto detalho
e bebo..

depois arroto, com elegância claro
e digo
é um neologismo querida...
quanto ao resto é a selvajaria linguística
é o querer lixar esta gramática toda

dá jeito.

A VOLTA E SER PREGO EM MIM


estou de volta
ao local e à carne que me carrega o epíteto de patife
estive minutos afastados daqui
que juntos dão mais de um ano

e a onde voltei ?
a mim
há quem procure em nós o verso e o reverso
eu sou o estalo da substância que marca na tua nádega a minha mão
eu sou o poeta da epiderme
aquele que arranha mas não mata nem fere

no fundo estou de volta
mas nunca sai daqui
de mim
a verdade filhos da puta é que não há fuga possível para nós
muda o cabelo
começa a falar fino e compassado
desenha gestos amáveis na tua mão

mas, não deixas de ser tu
para muitos seremos nós próprios é uma sentença
fodida
para outros é êxtase da prova de vida

tu és matéria rija onde entro como prego
quero ferir e soltar esse riso
de "porra estou a sentir-me viva a sentir-me grande em mim, obrigado "

alguma vez sentiste um prego
a entrar nessa epiderme
e a acompanhar a sensação de penetração

estou de regresso a mim
eu quero ser prego
quero ter fino corte a entrar
quero sorriso nesse trajecto que te faço

quero esvaziar essa prateleira que a tua vida é
quero desarrumar
quero ser lata de feijão fora de prazo
que decides pôr no lixo
mas, que há uma inquietude em ti que leva a comer
e no fim dizes para ti "comi, arrisquei e gostei"

tens mais pregos a mão ?